domingo, 15 de abril de 2012

[ Escrita direta ] - [ 14/15-04-2012 ]

Nunca tive problemas ou dificuldade para dormir, até agora... Ultimamente tenho recebido visitas constantes da D. Insônia. Minha letra está mais feia do que nunca. Fui ler uns poemas nesse caderno e tem no meio de um deles uma palavra que até agora não decifrei. Acho que a perdi. Tomara que por enquanto e não para sempre. Meus professores dizem "sua letra é bonita mas difícil de entender" e minha mãe diz que ela é torta e cheia de braços e pernas. Sei lá... nem tô afim de mudar.

Não sei o motivo da insônia, cada dia é uma coisa, toda noite a mesma coisa. Não sei, hoje (agora mesmo) me passou pela cabeça uma hipótese poética e perturbadora: devo estar querendo viver meus sonhos. Sabe?
Os sonhos devem chegar umas 3 da madrugada, aí eu os fico esperando acordada. Mas os sonhos devem ser bem tímidos. Não conseguem me encarar nos olhos. Eles ficam sem voz para meus ouvidos, se escondem bem atrás de meus olhos. Eu sempre olho nos olhos. Só encontro as pessoas em seus olhos. Tento achar os sonhos não sonhados que estão escondidos por trás de seus olhos.

Pode ser que a insônia seja algum tipo de feitiço da lua que por ciúme do sol se impõe mais brilhante do que nunca e atravessa meus olhos fechados. A lua é muito linda... Todas suas fases, todas suas faces, todos seus mistérios. A lua não possui brilho próprio. Seu brilho é apenas reflexo da luz emitida pelo sol. Isso é triste. A lua é triste. Se é assim, a insônia é feitiço do sol. O sol deve ser triste também. Ele sempre está no céu e nós nem podemos admirá-lo então "dar brilho" a lua é sua forma de se fazer admirar...

Eu sempre amei o sol. Adoro a luz, o calor... sempre me senti atraída por ele. Síndrome de girassol...sei lá! Sempre gostei de girassóis. Se eu fosse uma flor eu seria um girassol e amarelo é minha cor favorita. Tem gente que diz que amarelo é a cor da loucura. Nem ligo, isso não me incomoda. O que me incomoda são as linhas do caderno pois acredito que são elas que tornam minha letra desajustada porque elas ficam limitando seus braços e pernas (das letras), o que é bastante incômodo porque minha letra gosta de se esticar e espreguiçar e esparramar no papel. Gosto de escrever em sulfite. Gosto de ler Lins do Rego e gosto de ouvir Alceu Valença e gosto de achar que eu sou todos os meninos de todos os engenhos ( e todos os engenhos de todos os meninos) e também de achar que sou todas as morenas de Alceu. Gosto de achar que sou todas as morenas de todas as músicas que gosto. Gostaria de ter um rio para chamar de meu.
"Onde eu nasci passa um rio
que passa num igual sem fim
igual sem fim minha terra passava dentro de mim
Passava como se o tempo nada pudesse mudar
passava como se o rio não desaguasse no mar
..."

... Essa frase: "como se o tempo nada pudesse mudar"... O tempo sempre impiedoso. Ele se vai e o sono não vem. Hoje veio pra casa um girassol. Cuidarei dele como se estivesse a cuidar do próprio sol. Agora tenho um sol cujo brilho alimento. Um sol que gira por mim, e que cultuará a lua enquanto durmo.



[Girassol, giralua, giraestrela, giratudo] - [Janeiro 2012 - Lápis aquarelável em Canson A3]

[Girassol, giralua, giraestrela, giratudo] - [detalhe making of]

[Girassol, giralua, giraestrela, giratudo] - [detalhe making of]
[Colocando "meus Lins do Rego" pra tomar um sol. Pedágio entre o sebo e minhas prateleiras]

[Nada a ver] - [01]

[Nada a ver] - [02]